Você já chorou de frio?
Posted by doug | Posted in Artigos , Doug , Textos | Posted on 17:38
Sábado passado fui com uma amiga conhecer a casa de uma família que veio nos pedir ajuda.
Um sábado muito quente. Encontramos a Dona Miriam, uma senhora já com seus cabelos brancos que nos guiou até o bairro Piatã, na divisa de Mogi das Cruzes com Itaquaquecetuba. Pense em um lugar longe, é um pouco mais pra La.
Uma hora depois estavamos La, em uma rua de terra com sol ardente feito o agreste.
Ao chegar fomos recebidos por um monte de crianças sorridentes. Em suas roupas surradas e chinelos estourados, pareciam mais felizes que a gente em nos ver. Imagino que não devam receber muitas visitas.
Em frente a casa simples da dona Miriam, mais duas famílias se juntam, de suas duas filhas, uma com 6 filhos e outra com 7.
As casas amontoam-se em um barranco, berando um córrego que exala um forte cheiro devido ao sol.
Imagino que já devem ter se acostumados.
Conversamos com as famílias, e iniciamos os cadastro de cada um em uma entrevista simples e rápida.
Crianças de 5 a adolecentes de 15.
Nos surpreendemos com a educação de todos eles.
Desde o menorzinho até o adolecente de apelido “negão”.
Todos estudando. Todos muito educados, atenciosos e sorridentes.
Nos contam sobre suas dificuldades sonhos e esperanças.
Uma das mães nos conta sobre o desejo de voltar a trabalhar. Ela era manicure, mas um dia entraram no são onde trabalhava e roubaram o seu Kit de trabalho. Ela não pode comprar outro pois custa R$ 150,00. 150. Nos gastamos isso com besteira fácil.
Após um tempo de conversa vamos ate o carro buscar as roupas e alimentos que troxemos para eles.
4 sacolas de roupas e uma cesta básica que me pareceu menor deviso a quantidade de pessoas.
Quando entramos na velha sala da velha casa da senhora, a euforia das crianças é enorme, os sorrisos das mães idem.
Para nós são apenas algumas roupas usadas e um pouco de comida. Para eles, não.
Eles começam a abrir cuidadosamente os pacotes e explicamos que são poucas coisas mas que vamos tentar conseguir mais.
O garoto mais velho, fica encantado com uma jaqueta preta de napa já meio surrada. Ele diz: eu sempre quis uma dessa. A veste não quer mais tirar. Estava um calor de uns 30º. Ele amou a jaqueta que não era nova, mas pra ele não importava.
Logo depois, abrimos a cesta de alimentos para que eles pudessem dividir.
Um dos garotos pega algo na sexta e olha com os olhos brilhando.
Ele fala: Toddy.
Ele literalmente abraçou o pote de Toddy. Um pequeno pote de toddy que não custa mais que 3reais.
Ele diz o quanto ama toddy, que queria muito.
No melhor estilo “meu precioso”. Ele não larga aquele pote.
Ali percebemos que as vezes, um Toddy vale mais que outro para alguém.
Algo sem importância para nos, vale muito para alguém. Pode ser em uma jaqueta, um toddy, ou qualquer outra coisa.
Ver o sorriso daquele garoto foi incrivelmente bom.
Ao final, um dos pequenininhos me deu um abraço, na verdade, abraçou minha perna, rs.
Foi o melhor obrigado que já ganhei.
Quanto custa ajudar alguém e fazer alguém feliz?
Pouco.
Nos montamos uma cesta com ajuda de amigos e arrecadamos algumas roupas.
E com apenas isso, conseguimos fazer uma família muito feliz.
Basta querermos.
No meu trabalho, uma moça faz um trabalho com sem tetos no bairro onde mora, um bairro muito carente aqui de Mogi.
Ela me contou hoje. Que no mesmo sábado em que fomos a esta família. Ela saiu na madrugada para levar sopas e roupas para os moradores de ruas.
Ela disse que foi uma noite muito muito fria.
E por volta de uma da manhã, uma jovem se aproximou do grupo dela.
Ela estava apenas com uma blusa fina.
Lhe ofereceram comida.
Ela disse que não queria e perguntou se eles tinham um cobertor para dar para ela pois estava com muito frio.
Eles disseram que não. Pois não tinham mais nenhum naquela noite.
A moça começou a chorar. Mas não um choro contido. Ela começou a chorar como criança, soluçando e implorando por um cobertor.
Ela dizia: eu quero um cobertor, eu quero um cobertor, por favor, eu quero um cobertor, não agüento mais de frio.
E ficou ali na frente deles chorando e soluçando.
Eles não sabiam oque fazer.
Então saíram batendo de porta em porta naquela rua de madrugada pedindo um cobertor, ate que uma família arrumou pra eles.
Algum tempo depois trouxeram para a moça que chorava. Ela então se enrolou naquele cobertor como se fosse a coisa mais preciosa do mundo. Agradeceu e parou de chorar.
Muito provavelmente ela estava com fome, mas o frio era muito maior naquele momento.
Você já chorou de frio?
Eu não. Confesso que nunca cheguei a esse extremo, e confesso que isso me fez ver mais um vez o quanto eu tenho a dar pelas pessoas e por ser um ser extremante egoísta me fecho em meu mundo.
Depois de passar e ouvir essas historias vi que preciso fazer muito mais ainda para as pessoas. Eu posso fazer, mas eu quero fazer? Você quer fazer?
Sinceramente, pouco me importa se você é branco, amarelo, preto, azul com bolinhas verdes.
Pouco me importa se você é católico apostólico romano, carismático ou não praticante. Se você é de mesa branca, amarela ou laranja, se você é evangélico, protestante, armeniano, calvinista ou emergente. Pouco me importa se você acende vela, ora ou reza em pé ou de joelhos. Pouco me importa se você acredita que veio do barro ou do macaco. Pouco me importa.
O que me importa é que assim como eu você tem condições de ajudar muita gente, seja com seu tempo, com um cobertor ou um pote de Toddy.
Você pode, eu posso, a questão é: nós queremos?
Eu quero. E espero que Deus continue me dando essas oportunidades, que na verdade são tapas na minha cara, pra eu acordar e enxergar que não estou aqui apenas pra fazer volume, e sim, para somar.
Que Ele possa continuar agindo em mim, por mim e apesar de mim.
Douglas Araujo
Comments (0)
Postar um comentário