PORQUE EU DESISTI DE SER EVANGÉLICO
Posted by doug | Posted in Artigos , milton , Textos , vineyard | Posted on 18:21
Não quero ser polemico. Também não desejo soprar aos quatro ventos que “descobri a roda!” e, principalmente o assunto em questão não é novidade para as pessoas que giram na órbita da Vineyard Café. Trata-se do registro de uma constatação de quase dez anos da minha peregrinação cristã.
Sistematizei porque assim funciono melhor. Isso tem sido assunto recorrente em nossa comunidade e temos procurado vivenciar isso.
As razões pelas quais eu desisti de ser evangélico:
1. Entendo que “a igreja evangélica não existe. O que existe são centenas e milhares de comunidades cristãs evangélicas, são centenas e milhares de comunidades locais e, estas centenas e milhares vão se agrupando em tribos e, vão desenhando acampamentos. Dentre estes acampamentos alguns tem mais expressão ma mídia televisiva, radiofônica, impressa e, vão construindo a partir daí, uma identidade de ser evangélico, um senso comum evangélico, que se torna hegemônico”. (observação de Ed Renne Kivitiz). E foi em reação a esse senso comum evangélico, a esse crer e viver evangélico que me rebelei.
2. Entendo que a chamada igreja evangélica brasileira precisa de mudanças profundas e significativas na sua realidade, para que passe a ter relevância nos dias de hoje e tenha sua agenda mais próxima a agenda do Reino.
3. Entendo que há uma diferença entre Espiritualidade (A relação com o que dá sentido ultimo a existência, que chamamos de Deus. Aquilo no ser humano que nos liga ao eterno, ao transcendente. Aquilo pelo o que estamos dispostos a perder a própria vida, para encontrar sentido. Aquilo que é ultimo. A realidade suprema da vida. Nós cristãos chamamos de Deus. A busca disso é espiritualidade). E Religião (O conjunto de dogmas de ritos, códigos morais, que fazem distinções entre sagrado e profano dentro do qual organizamos nossa vivencia de espiritualidade). Assim, religião é uma coisa, espiritualidade é outra coisa. Religião é a forma como nós estruturamos e organizamos nossa espiritualidade.
4. Entendo que há uma diferença entre Deus (Que não tem medida, não explicação. O ser eterno. O “Eu sou o que sou...”) e a Teologia (ferramenta que utilizamos para entender Deus, para torná-lo mais próximo, acessível, inteligível). Deus extrapola as categorias de nossa teologia, extrapola nossos códigos doutrinários. Deus esta acima da teologia. Isso significa que eu posso discordar da teologia!Não concordo com um monte de coisa do Calvino. Não concordo com um monte de coisa dessa teologia ridícula que se consome no Brasil. Aprendi a distinguir Deus dos discursos que são feitos a respeito de Deus.
5. Entendo a diferença entre cristianismo (o conteúdo essencial da vida e obra dôo Cristo) e cristandade (as formas históricas do cristianismo). A cristandade é sub-cultura do cristianismo. Ter denominação é cristandade. Ser evangélico é cristandade e não tem nada a ver com cristianismo. E chegou uma hora que eu cheguei a conclusão que a igreja evangelica no Brasil é uma péssima expressão do cristianismo. Não quero questionar aqui, se este modelo está certo ou errado. O que sei é que este modelo não me define mais. A expressão “evangélico” não mais me traduz nos quesitos de fé, nos quesitos de celebração e liturgia, nos quesitos de códigos morais, não mais me traduz.
6. Entendo que há uma distinção entre Comunidade Cristã (a comunhão dos cristãos a serviço do Reino de Deus) e a Instituição Religiosa (a organização a serviço dos cristãos). A instituição religiosa – vineyard café – é uma pessoa jurídica. A comunidade cristã se reúne em baixo da arvore se for preciso. Na nossa caminhada chegou uma hora que a comunidade cristã cresceu tanto que precisamos da estrutura da instituição para nos servir. A instituição religiosa é uma coisa, o corpo de Cristo é outra coisa.
Hoje, quando digo: “sou evangélico”, estou dizendo uma coisa que vai despertar no imaginário de quem ouve uma identidade que absolutamente não tem nada a ver comigo.
E, antes que você pense que estou abandonando minha fé, quero informar que não! Continuo amando Jesus, continuo procurando fazer Sua vontade, continuo pastoreando e servindo pessoas numa comunidade local. Apenas, estou abandonando uma versão da cristandade que não me define mais. Só isso.
Esse caminho tem sido doloroso e difícil, porque é a contra mão da igreja nesse momento da história do nosso País. Mas não abro mão dele.
No Pai;
Milton Paulo | pastor da Vineyard Café
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